Rock in Rio 2024 – Dia 15: o terceiro dia do festival fez jus ao nome com grandes artistas

O único dia que realmente honrou a marca do evento presenteou o público com nomes de respeito do gênero rock

Texto, revisão e edição: Gustavo Franchini


Para os verdadeiros amantes do rock, o terceiro dia do festival (15) foi o único em que realmente podemos considerar digno do nome, mesmo considerando que desde a primeira edição, o Rock in Rio nunca foi só sobre rock, mas também contemplava diversos gêneros e bandas tradicionais do país. Reunindo nomes de respeito em uma noite lotada de fãs vestidos de preto que adoram um bom mosh, o Rock in Rio 2024 celebrou as variadas vertentes do rock/metal. Para acompanhar as pérolas do Supernova, uma parte do público teve que abrir mão de trechos de outros shows, já que coincidia com os horários dos palcos principais. Mesmo assim, foi genuinamente um momento proveitoso para todos!

A nossa equipe fez a cobertura das bandas Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Black Pantera, Planet Hemp convida Pitty, Journey, Incubus, Evanescence, Deep Purple e Avenged Sevenfold.

Confira vídeos dos shows na seção ‘Destaques’ do Instagram

Palco Supernova

Black Pantera

Depois de ter se apresentado com sucesso na edição anterior do festival, os mineiros do Black Pantera voltaram com força total e mostraram a qualidade de seu trabalho para um público que compareceu em peso no Supernova. E parece que o som da mesa proporcionou um plus no peso descomunal que já é característico das músicas da banda, além de bastante nitidez nas notas, o que gerou como resultado um clima poderoso de thrash metal com groove de primeira.

Comemorando 10 anos de formação, as letras fortes em setlist inteiramente autoral passaram uma mensagem importante que ecoa nos corações dos roqueiros e até mesmo a participação especial da mãe de dois dos integrantes que são irmãos, Charles (guitarra) e Chaene (baixo), foi um belo momento para que a família seja valorizada, algo tão raro nos dias atuais.

Fotos / Setlist (Black Pantera)

Palco Sunset

Barão Vermelho

Por falar em música brasileira de qualidade, uma das bandas que fazem parte do conhecido Quarteto Sagrado do rock nacional dos anos 80 se apresentou com energia contagiante no Sunset: Barão Vermelho. Mesmo com mudanças de formação e agora tendo como frontman o vocalista e guitarrista Rodrigo Suricato, sem os ícones Frejat e Cazuza, a essência estava lá em canções que fazem parte do nosso cotidiano.

Somado aos hits que todos cantaram em uníssono, desta vez a memória de Cazuza foi eternizada ao estrearem uma nova composição que leva o nome de “Do Tamanho da Vida”, baseada em um poema (nunca antes lançado) escrito pelo próprio e cedido pela mãe do saudoso cantor na época. A bela surpresa agradou grande parte dos presentes, até por manter a sonoridade já estabelecida pelo grupo, que inclusive será o nome da próxima turnê deles. Tendo o vermelho como cor central da produção de palco, o show foi ideal para aquecer os ânimos para o que estava por vir em um belo dia.

Fotos / Setlist (Barão Vermelho)

O Deep Purple proporcionou um espetáculo digno do genuíno rock progressivo

Planet Hemp convida Pitty

A dinâmica de encontros sempre esteve presente no Rock in Rio, portanto não poderia faltar a saudável mistura de artistas de estilos diferentes, como foi o caso de Planet Hemp (rock/rap) com Pitty (rock alternativo). O vocalista Marcelo D2, já experiente nos palcos, realmente tem o público nas mãos do início ao fim do show, algo perceptível em músicas empolgantes dos anos 90 que fizeram parte do setlist, bastante extenso se considerar o tempo disponível. A entrada de Pitty no final de fato impactou a todos e deu a entender que seria melhor se ela tivesse participado de mais músicas, já que ela cantou duas de sua carreira, “Admirável Chip Novo (Reativado)” e “Teto de Vidro”, enquanto apenas um medley de “Mantenha o Respeito” e “Máscara” realmente em conjunto com o Planet Hemp.

Fotos / Setlist (Planet Hemp convida Pitty)

Incubus

Uma das bandas mais cultuadas do rock alternativo mundial, o Incubus voltou ao Brasil para um show já bastante esperado pelo fã da boa música. Trazendo um setlist bem variado e até fora do usual para o ambiente menos intimista de um festival, os californianos abriram com a ótima “Nice To Know You” em uma turnê que celebra o lançamento de Morning View (2001). Contudo, nem todas as canções que deveriam constar no show estavam lá. Para completar, houve alguns problemas técnicos no som que afetaram o clima necessário para uma apresentação deste porte.

O excelente vocalista Brandon Boyd e sua competente cozinha formada pelo guitarrista Mike Einziger, o baixista Ben Kenney e Jose Pasillar nas baquetas, além do DJ Chris Kilmore no piano/turntables, já são conhecidos pela presença de palco intensa e emocional, o que gerou uma certa estranheza por conta do que foi mencionado anteriormente. Boyd se esforçou para suprir tais questões com musicalidade em diversas canções distintas e até mesmo versões covers (Phil Collins em “The Air Tonight” e Beatles com “Come Together”) mostram que realmente só querem que a plateia se divirta. Mas, claro, o que o pessoal realmente queria ouvir é o hit máximo “Drive”, que encerrou o show. Para a alegria de todos, eles anunciaram que a banda retornará ao Brasil ano que vem para entregar uma noite completa em comemoração à regravação Morning View XXIII, o que certamente gerou suspiros de alívio.

Fotos / Setlist (Incubus)

Deep Purple

Injustamente escalados para tocar como headliners no palco secundário, a lenda viva do rock progressivo Deep Purple, com mais de 60 anos de carreira (sim, isso mesmo) mostrou não só o que é um show genuíno do gênero, como também foram o maior destaque desta noite do festival. Chega a ser inacreditável que senhores na faixa dos 80 anos de idade foram capazes de presentear o público brasileiro com um espetáculo digno de aula para jovens. Gritos ecoavam próximos à grade do palco, como “isso sim que é rock de verdade”, algo que é impossível não concordar, já que são pioneiros no estilo.

A introdução da clássica “Mars, the Bringer of War” de Gustav Holst (da suíte The Planets) gerou o alicerce necessário para a entrada de uma das maiores obra-primas do rock, “Highway Star”, o que deixou o público completamente extasiado, este composto por adultos, adolescentes, idosos, ou seja, uma faixa etária bem variada. Aliás, variedade é o que caracterizou um setlist que, apesar de não ter a presença de algumas muito pedidas como “Perfect Strangers”, ainda assim trouxe diamantes como “When a Blind Man Cries” e “Space Truckin'”, ambas bem executadas pelo quinteto. Claro que a euforia máxima veio com o ‘riff de guitarra mais tocado do mundo’ com “Smoke on the Water”, somado ao bis fenomenal com a versão cover de “Hush” (Joe South) e a brilhante “Black Night”.

Enfrentando alguns problemas no microfone no início da apresentação, o veterano vocalista Ian Gillan, influência de tantos ídolos de gerações posteriores (como Bruce Dickinson do Iron Maiden), aos incríveis 82 anos mostra bastante carisma, fôlego e qualidade vocal. Claro que alguns tons mais agudos (que sempre foram emblemáticos em suas performances), de canções que ele gravou há mais de cinco décadas, não eram perfeitamente alcançados e até mesmo evitados (mantendo uma oitava abaixo), mas ainda assim mostrou estar em ótima forma.

Sem firulas na produção de palco, tendo apenas o necessário para não causar distrações e focando no que é realmente importante, ou seja, as músicas, Gillan, junto com outros dois integrantes da formação MKI e MKII do final da década de 60, os sensacionais músicos Ian Paice (bateria) e Roger Glover (baixo), ambos também ícones de seus instrumentos e respeitadíssimos na cena mundial, além do competente e versátil tecladista Don Airey, só precisavam conquistar de vez o público com a grande novidade: o guitarrista Simon McBride, que entrou em 2022 no lugar de ninguém menos que Steve Morse, posto esse que também já contou com Ritchie Blackmore (da era clássica), Tommy Bolin e, por incrível que pareça, Joe Satriani.

E a escolha não poderia ser mais acertada. McBride possui todos os atributos necessários para fazer parte de uma banda deste calibre; técnica apurada, feeling, conexão com os demais integrantes. Tudo ali soava natural, como se realmente ele já estivesse no grupo há muitos anos. O entrosamento se mostrou impecável e não à toa já até lançaram um novo álbum este ano, intitulado =1 (igual a um), que inclusive foi representado no show pelas ótimas “A Bit on the Side” e “Lazy Sod”, mostrando que os dinossauros do rock ainda tem muita lenha pra queimar. Votação unânime como melhor show do dia 15!

Fotos / Setlist (Deep Purple)

A banda Evanescence se conectou intensamente com fãs emocionados

Palco Mundo

Os Paralamas do Sucesso

Queridinhos de festivais ao redor do país, Os Paralamas do Sucesso (que também fazem parte do Quarteto Sagrado do rock brasileiro junto com o Barão Vermelho, Titãs e Legião Urbana) conseguem algo que poucas bandas são capazes: um show contagiante, impossível de ficar parado e não reagir à tantas melodias memoráveis. Herbert Vianna (voz e guitarra), João Barone (bateria) e Bi Ribeiro (baixo) se unem a músicos de apoio para dar ao público o que eles querem. Em outras palavras, uma apresentação previsível (no bom sentido da palavra), contendo músicas de sucesso, que em festivais, pela curta duração, simplesmente são todas do setlist.

Canções como “Aonde Quer Que Eu Vá”, “Lanterna dos Afogados” e “Meu Erro” são a fórmula de como fazer um show que celebra a interação com o público, quase que um karaokê ao ar livre. Apesar de alguns erros de execução por parte do tecladista e até mesmo nas notas de guitarra de Herbert em alguns solos, nada disso atrapalhou a tarde de abertura do Palco Mundo. Até porque muito da sonoridade era clarificada com o saxofone imponente que cumpria sua função em arranjos bem colocados. Vida longa ao rock nacional!

Fotos / Setlist (Os Paralamas do Sucesso)

Journey

De longe a apresentação mais polêmica do dia, gerando opiniões fortes e até mesmo enorme repercussão midiática a ponto de afetar o frontman da banda, o Journey, por ser uma banda histórica do hard rock mundial, dona de tantos hits que marcaram gerações, inevitavelmente chamaria a atenção pela expectativa diante de um show que os brasileiros tanto queriam. E para a maioria que estava presente lá, pelo menos se considerar os que estavam próximos ao palco e que cantavam praticamente todas as letras com bastante ânimo, o resultado foi ótimo. Mas para quem assistia a transmissão do show nos canais de internet e TV, infelizmente teve outra impressão.

Ao vivo, ali na hora, de fato nas primeiras músicas o desempenho do vocalista Arnel Pineda, que já passou dos 50 anos de idade, era bem honesta e alcançava tons extremamente difíceis de alcançar da era Steve Perry. Aliás, isso é um ponto a ser mencionado: a maioria das pessoas talvez não entenda o quão desafiador é reproduzir as linhas vocais dos álbuns gravados na década de 70/80 da discografia da banda. A parte instrumental, em grande parte, é mais simples (se for fazer uma comparação), mesmo que seja executada por maravilhosos músicos. Não à toa, Perry é reconhecido como uma das maiores vozes da história do gênero, impressionando até mesmo nas gravações famosas de “We Are the World”, junto a outros monstros do canto como o próprio dono da composição, Michael Jackson.

Muitos artistas de hoje em dia se utilizam de samples, playbacks e muitos efeitos na voz (nem estou falando do famigerado autotune), então ter que apresentar um show completo de intenso trabalho vocal com perfeição é uma tarefa para poucos. Portanto, é natural que não se alcance todas as notas, ou até mesmo role semi-tons. Então, após algumas músicas, a voz de Pineda se mostrou cansada e com claras dificuldades de cantar as mais esperadas, como “Separate Ways (Worlds Apart)”, “Don’t Stop Believin'” e “Any Way You Want It”. Por outro lado, “Faithfully” e “Open Arms” ficaram excelentes!

A interação com o público foi constante e em diversos momentos o vocalista mandava ver em agudos poderosos. É injusto resumir todo o show aos minutos finais, por mais que houvesse um deslize aqui e ali, o que é inegável. Por conta de todo o alarde provocado nas redes sociais, o próprio Pineda veio a público depois dizer que se os fãs quisessem, ele deixaria a banda (uma jogada de marketing, claro), caso votassem nos comentários do post no Instagram. Conseguiram a atenção que queriam e provavelmente ele deve voltar ao Brasil nos próximos anos para mostrar que é sim um cantor de muita qualidade.

Fotos / Setlist (Journey)

Evanescence

Em turnê de divulgação do álbum mais recente, The Bitter Truth (2021), um show do Evanescence é sempre garantia de emoção por parte de um público fiel e que realmente se identifica com as letras e melodias melancólicas cantadas (e tocadas no piano) por Amy Lee com muita competência e simpatia. Logo de início houve um problema técnico que forçou o reinício da primeira música, mas depois ficou tudo nos conformes para um setlist escolhido a dedo para agradar os fãs novos e antigos. Metade era composto por músicas do novo álbum; a outra metade pelo famoso disco de estreia Fallen (2001), além de The Open Door (2006) e Evanescence (2011).

Canções como “Going Under”, “Call Me When You’re Sober”, “Imaginary”, “My Immortal” (que até contou com um trecho cantado em português) e “Bring Me to Life” ressoaram nos quatro cantos da Cidade do Rock como se todos estivessem ali unidos em prol da transcendência do new metal cativante do grupo. Com a bandeira do Brasil pintada no rosto, Lee em diversos intervalos entre as músicas fazia questão de transmitir mensagens importantes para a plateia, algo que se tornou uma marca registrada da artista. Muitos gritos de “eu te amo” e “linda” por parte do público eram retribuídos imediatamente por Lee com muito carinho. Depois de quase 1h20 de show, pode-se dizer que todos já aguardam ansiosos por uma nova passagem da banda por terras tupiniquins.

Fotos / Setlist (Evanescence)

O Avenged Sevenfold fez um show enérgico para público empolgado

Avenged Sevenfold

Fechando a noite com a banda que na edição de 2013 foi abertura/intermediária entre gigantes do heavy metal como Iron Maiden e Slayer, duramente criticada pelos fãs mais radicais por ter sido parte do line-up da época, mas logo depois sendo louvada pela apresentação digna que fizeram, os norte-americanos do Avenged Sevenfold (também conhecidos como A7X) tinham uma missão a cumprir: estabelecer definitivamente sua bandeira no solo brasileiro. E se dependesse somente deles, acredito que conseguiriam com maestria. Porém, problemas técnicos no som realmente atrapalharam uma boa parte de seu repertório.

Mesmo com uma produção de palco bem legal, contando com vários efeitos visuais, pirotécnicos e fabulosas telas, ainda assim não foi suficiente para suprimir a sonoridade estridente das guitarras e o vocal tímido das primeiras músicas, que geravam diversos ruídos em conjunto com a linha de bateria, prejudicando muito a apreciação por parte dos espectadores. Pra completar, demorou muito para que os problemas fossem contornados, o que fez com que houvesse a nítida dispersão de parte do público. Quem teve a paciência de esperar por uma melhora no som, foi bem recompensado, pois a partir dali eram só petardos um atrás do outro, já que o setlist foi majoritariamente representado por canções dos álbuns Avenged Sevenfold (2007), Nightmare (2010), e Life Is But a Dream… (2023), que representam bem o período de transição da banda de um thrash/death metal para o metalcore, decisão responsável pelo atual sucesso comercial.

Canções como “Bat Country”, “Afterlife”, “Gunslinger, “Hail to the King”, “A Little Piece of Heaven”, “So Far Away”, “Buried Alive” e, claro, “Nightmare” fizeram a alegria dos presentes, ainda mais levando em conta a presença de palco firme do vocalista M. Shadows, interagindo bastante e andando pela passarela para se aproximar da plateia sempre que possível. A guitarra de Synyster Gates e Zacky Vengeance, além do baixo de Johnny Christ e bateria de Brooks Wackerman completam uma formação sólida. Reis do “Hey” ao vivo, uma peculiaridade da banda que ocorreu em diversos momentos, chegou a ser interessante observar quantas vezes as pessoas levantavam os punhos para acompanhar os ritmos percussivos a pedido de Shadows, que inclusive entoavam as letras de maneira tão alta que até disputavam com o microfone do vocalista. Belo encerramento para um dia que foi a celebração autêntica do “Rock” no nome do festival!

Fotos / Setlist (Avenged Sevenfold)

Nossos agradecimentos a todos os responsáveis por tornarem o evento possível e, em especial, para a Approach Comunicação pela parceria, confiança e credibilidade dada mais uma vez à equipe do Universo do Rock. Nos vemos em 2026!


Confira as fotos gerais do terceiro dia (15/09) no Rock in Rio 2024:


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