Rolling Stones arrebentam na primeira noite de show em São Paulo

Por: Carla Maio
Foto: Miguel Schincariol
Foto: Miguel Schincariol

Depois de dez anos do histórico show que reuniu mais de 1 milhão de pessoas em Copacabana, Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts, os lendários e carismáticos rapazes dos Rolling Stones estão de volta ao Brasil para mais uma emocionante apresentação. E quem os assiste não tem dúvida: esses britânicos têm vitalidade sobrenatural. Na noite da última quarta-feira (24), o Estádio do Morumbi recebeu a banda num show memorável, que não deixou pedra sobre pedra.

Eles abrem com “Start me up” e o Morumbi treme. Do temporal que caira com força no final da tarde restou apenas uma fina garoa, que ao invés de atrapalhar deu ânimo e energia aos corpos, que entre quentes e úmidos exalavam uma vibração gostosa, dessa que a gente só consegue quando está em perfeita sintonia com a primazia de quem está tocando. Era esse o público dos Rolling Stones naquela molhada quarta-feira.

Uma pérola chamou a outra. Foi “It’s Only Rock ‘n’ Roll” que fez com que Mick Jagger se desdobrasse nas suas fantásticas peripécias corporais. A performance, aliás, é cheia delas, e de bocas, e de caretas, e de yeah, que o público costuma responder e acompanhar atentamente.

A magnífica “Tumbling Dice”, uma das mais belas canções dos Stones, vem na sequência e não deixa dúvidas dos motivos que levaram a Revista Rolling Stone a classificar o álbum Exile on main street, de 1972, no sétimo lugar entre os quinhentos álbuns de rock mais importantes já lançados.

Um show de cores vivas e luminosas, que irradiavam do figurino dos músicos, das projeções no telão, da iluminação de palco e também na explosão pirotécnica dos fogos de artificio, um cenário de muita magia e beleza extrema.

Satisfação pra ninguém botar defeito

Cerca de 60 mil pessoas reunidas ali aos berros para prestigiar uma das bandas de rock mais importantes do planeta. Fãs ousados, que escolheram “Bitch” como a música para compor o set list. E foi para esse público sedento, que em hipótese alguma conseguia ficar parado, que os Rolling Stones tocaram sucessos como “Out of Control”, “Beast of burden”, “Worried about you”, na qual Jagger assume os teclados, a enigmática e mística “Paint It Black” e agitadíssima “Honky Tonk Women”.

Extremamente atencioso, Mick Jagger interagiu com o público em inúmeros momentos, arriscou muitas frases em Língua Portuguesa, ora fazendo graça e tropeçando em algumas gírias, ora desejando saber como todos estavam se sentindo. Mais de uma vez, se lembrou saudoso de que a última vez em que estiveram em Sampa foi há 18 anos. Bons tempos, ontem, hoje e sempre!

Um espetáculo feito a muitas mãos. Mick Jagger apresenta cada um dos músicos que garantem a magnitude sonora dos Rolling Stones. Quando, porém, chegou a vez de Keith Richards, a emoção tomou conta do público, que o saudou com longas palmas e um salve de olê, olê, olê. Homem de poucas palavras, ele apenas respondeu: “eu tenho um show para fazer”, e retribuiu tamanho carinho com “You got the silver” e na sequência “Happy”, também do álbum de 1972, pérolas musicais que mostram o quanto os Stones estão com os pés fincados no Blues.

Nessa mesma vibe blusera, Jagger assume a gaita e a banda toca “Midnight Rambler. Já em “Miss you”, é a vez do solo surpreendente do baixista Darryl Jones falar mais alto. Mas de arrepiar mesmo foi o backing vocal de Sasha Allen em “Gimme Shelter”. A cantora, umas das finalistas do The Voice americano de 2013, assumiu o lugar de Lisa Fischer durante a Olé Tour.

Foto: Miguel Schincariol
Foto: Miguel Schincariol

E como o hábito de guardar o melhor para o final prevalece em muito daquilo que fazemos com prazer, a três últimas músicas da noite, “Brown Sugar”, “Sympathy for the Devil” e “Jumpin’ Jack Flash” anunciam que o espetáculo chegara ao fim.  Não, calma! Na volta para o programado bis, os Rolling Stones encerram a grande noite com um coral que introduz “You Can’t Always Get What You Want”. Em puro êxtase, não podia faltar a emblemática “Satisfaction”, que ao invés de saciar o desejo de ver e ouvir os Stones, reacendeu ainda mais a vontade de curtir mais um pouquinho. A sorte é que sábado tem muito mais!

E os Titãs fizeram muito bonito

Não é a primeira vez que os Titãs abre um show para os britânicos; a última vez foi no famigerado show de Copacabana, em 2006. Ainda chovia quando os músicos subiram ao palco, pontualmente às 19h, exibindo logo de cara o peso de uma de suas músicas mais conhecidas, “Lugar Nenhum”.

Ao contrário do que aconteceu na abertura dos Rolling Stones no Maracanã, no último dia 20, quando o vocalista do Ultraje a Rigor trocou ofensas com o público, os Titãs foram muito bem recebidos em uma apresentação calorosa, à altura da megaprodução que estava por vir, recheada de sucessos e de celebração, afinal, em matéria de rock’n’roll e de letras de contestação, a banda manda muito bem e é reconhecida como um dos ícones do rock paulistano.

“Que legal, São Paulo, essa vai ser uma noite especial e vai ser um grande barato participar dessa festa junto com vocês”, comemora Paulo Miklos.
No set do show que durou exatos 60 minutos não faltaram sucessos como “AAUU”, “Diversão”, “Sonífera Ilha”, “Comida”, “Cabeça Dinossauro”, “Marvin”, “Desordem” e “Homem Primata”.

“Polícia” e “Bichos” são apresentadas na sequência e, para encerrar a incrível participação, a banda homenageou outro roqueiro de peso, um cara que deixou saudades e que não tinha papas na língua, mas que sabia fazer a crítica de um modo extremamente sutil e inteligente. De repente, alguém grita: “toca Raulllllll”, e a apresentação termina com “Aluga-se”, do baiano Raul Seixas.

As pedras continuam rolando

Os Rolling Stones deram início à turnê latino-americana no dia 3 de fevereiro, com show em Santiago, no Chile. Antes de pisar em solo brasileiro, os lendários roqueiros fizeram três shows no Estadio Único Ciudad de La Plata, em Buenos Aires, na Argentina, e em Montevideo, no Uruguai.

Depois dos shows do Rio de Janeiro e São Paulo, eles seguem para Porto Alegre, onde encerram a turnê brasileira, no dia 2 de março.

E a Olé Tour não para por ai. Os Stones passarão ainda por Lima, no Peru (6/3), Bogotá, na Colômbia (10/3) e encerram a turnê na Cidade do México, no dia 14 de março.

Set List
Start Me Up
It’s Only Rock ‘n’ Roll
Tumbling Dice
Out of Control
Bitch
Beast of burden
Worried about you
Paint It Black
Honky Tonk Women
You Got the Silver
Happy
Midnight Rambler
Miss You
Gimme Shelter
Brown Sugar
Sympathy for the Devil
Jumpin’ Jack Flash
Encore
You Can’t Always Get What You Want
Satisfaction

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