Por Gustavo Franchini
O Symphony X é considerado por muitos a nata do prog metal mundial, apresentando trabalhos impecáveis com muita personalidade e atraindo uma legião de fãs brasileiros. Não à toa estão de volta ao Brasil para a turnê comemorativa de 28 anos de carreira (confira as datas e ingressos aqui), adiada em 2020 por conta da pandemia. E claro, o Rio de Janeiro (no dia 27 de julho) foi a primeira dentre as cidades que a banda percorrerá ao longo dos próximos dias, apresentando músicas do trabalho mais recente, Underworld, além de sucessos de toda sua discografia.
A noite começou com o show da Rec/All, na qual o vocalista carioca Rodrigo Rossi (Thorn), junto com músicos do mais alto calibre, como o guitarrista Marcelo Barbosa e o baixista Felipe Andreoli, ambos do Angra, além de Pedro Tinello (Almah) nas baquetas e Bruno Sá (Allegro) nos teclados, apresenta músicas autorais que variam do hard rock ao progressivo, o que encaixou bem com a plateia da casa. O destaque vai para o cover do Dream Theater, a ótima “Under a Glass Moon”, e uma inusitada homenagem ao anime Cavaleiros do Zodíaco com o tema “Pegasus Fantasy”, na qual Rossi tem bastante familiaridade, visto que participou de diversas versões brasileiras de temas desta e de outras séries.
O público, já estasiado aguardando pela apresentação dos mestres do progressivo neoclássico, fez sua parte e lotou a casa, o que com certeza contribuiu para a animação do quinteto norte-americano Symphony X. Logo após a intro, as luzes se acendem e a cadenciada “Nevermore”, do álbum mais recente, ecoa por todo lado com muito peso e nos dando uma noção do que estava por vir. E é justamente neste ponto que devo comentar; o setlist já previsível e burocrático que, como fã da banda há tantos anos, de fato esperava bem mais. O objetivo era celebrar a carreira toda da banda, contudo a impressão que ficou é de que se trata de um lançamento do álbum Underworld e, considerando que este foi lançado em 2015, em minha humilde opinião já estava na hora de acrescentar músicas de outros álbuns importantes como o brilhante Twilight in Olympus e até mesmo dos dois primeiros álbuns (o auto-intitulado e The Damnation Game), afinal, são parte essencial na história deles.
O vocalista Russell Allen, como sempre, é um show à parte, seja em sua performance impecável, seja em seu carisma e carinho com os fãs. Do início ao fim do espetáculo, ele agitava em todos os momentos possíveis, puxava coros, dançava, fazia piadas e dialogava com a plateia, o que trouxe um tom muito agradável à noite. E todos respondiam com agitação, cantavam todas as letras e não deixavam a peteca cair por um minuto sequer. Uma sintonia de cair o queixo!
Uma das que representam melhor a originalidade do Symphony X é definitivamente a espetacular “Evolution (The Grand Design)”, que de modo instantâneo faz tremer o chão e é responsável por representar o álbum V: The New Mythology Suite, o qual considero a obra-prima do quinteto (The Divine Wings of Tragedy fica bem coladinho também). O maestro Michael Romeo, líder, guitarrista e principal compositor da banda, mostra o motivo de ser tão respeitado na cena, dando aula nas seis cordas com uma pegada estupenda, conseguindo nos fazer esquecer até de alguns problemas técnicos no som da casa, que deixaram o timbre do instrumento um pouco saturado e os teclados do criativo Michael Pinnella em segundo plano por muitas músicas, o que foi resolvido após o intervalo para o bis.
Já a bateria de Jason Rullo brilhou de maneira majestosa. Na música “Serpent’s Kiss”, do álbum Paradise Lost, isso é bem visível, sendo bastante técnico, visceral e, ao mesmo tempo, nos brindando com viradas que dariam inveja a qualquer baterista de progressivo que se preze. Que cara bom! O mesmo pode ser dito do simpático baixista Michael LePond, que mesmo com uma postura tímida no palco, sua presença se engrandece com linhas de graves que fizeram o público ficar atônito, recheado de brincadeiras em sua maneira de tocar as notas, tornando tudo um grande show relaxante como deve ser. E falando nele, a próxima música, a clássica “Sea of Lies” (The Divine Wings of Tragedy), já começa com o baixão na cara, gerando rodinhas e uma empolgação visível de todos. Está mais do que explicado por que o Symphony X é tão bom ao vivo quanto em estúdio!
Na sequência, temos a bela “Without You”, que é uma das melhores do Underworld, e neste momento nos remete ao que foi comentado anteriormente, pois com a exceção da balada “When All is Lost” (ironicamente do mais pesado álbum da banda, Iconoclast), as outras duas músicas também são do álbum mais recente (“Kiss of Fire” e “Run With the Devil”). Todas excelentes canções, mas realmente senti falta de maior representatividade da discografia inteira da banda. Para fechar a primeira parte do show, a poderosa “Set the World on Fire (The Lie of Lies)”, representando mais uma vez o álbum Paradise Lost, deixando a plateia ansiosa para o que todos já sabiam que ia rolar no bis: a complexa e maravilhosa “The Odyssey” (do álbum homônimo) com seus 24 minutos de duração, que passam tão rápidos pelo fato de ter arranjos orquestrados (que foram simplificados no show, claro) que levam o ouvinte a uma viagem sonora inesquecível, o que me lembra muito o estilo de composição da lenda viva do cinema, John Williams, uma das inspirações de Michael Romeo, esta música sendo um marco na história do prog metal mundial.
Depois dessa apresentação memorável, agora nos resta aguardar pela próxima visita do Symphony X à nossa cidade maravilhosa. Que venham com mais frequência e sejam sempre muito bem-vindos!
SETLIST SYMPHONY X:
1 – Overture/Nevermore
2 – Evolution (The Grand Design)
3 – Serpent’s Kiss
4 – Sea of Lies
5 – Without You
6 – When All is Lost
7 – Kiss of Fire
8 – Run With the Devil
9 – Set the World on Fire (The Lie of Lies
BIS
10 – The Odyssey
GALERIA DE FOTOS DO SHOW SYMPHONY X (RJ):
GALERIA DE FOTOS DO SHOW REC/ALL (RJ):
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