Por: Mônica Mustafa
Depois de 17 anos sem tocar em terras brasileiras e outros tantos anos de boatos sobre supostas vindas da banda, eis que o sonho de um grande público, mesclando várias gerações – em especial na faixa dos 30 anos – se realiza. Inicialmente programado para o Estádio do Morumbi, o show do The Cure, transferido para a Arena Anhembi, alcançou praticamente a lotação máxima do local (cerca de 30 mil pessoas).
Após as apresentações das bandas Lautmusik e Herod Layne selecionadas para a abertura, às 20h10min horas (apenas 10 minutos de atraso do horário previsto) as luzes da arena se apagam e dá início ao que foi um dos shows mais longos e intensos já vistos por aqui. Devido a problemas no transporte público que afetaram a capital e a região metropolitana naquela tarde e noite, ainda havia muita gente adentrando o local com o show já começado.
A banda abre sua apresentação com Open, do álbum Wish (1992) e segue com High, do mesmo álbum. A qualidade do som estava impecável, o que é raro para a Arena Anhembi. O show do The Cure foi privilegiado por uma noite sem chuva e sem vento na capital paulista, o que normalmente faz com que o som da Arena, que é aberta, se disperse facilmente e deixe as apresentações literalmente com altos e baixos. Mas tanto na Budzone (área vip) quanto na pista comum o que se ouvia era um som cristalino, beirando a perfeição dos CDs da banda.
E dá-se continuidade a um dos setlists mais bem construídos, senão o melhor: o The Cure agradou os fãs fervorosos, ansiosos por músicas de toda a carreira da banda – somente dois álbuns não tiveram nenhuma música inclusa na apresentação: Faith (1981) e Bloodflowers (2000) – e também à parcela do público que só conhece os grandes hits, bem como os saudosistas dos anos 80 e início dos 90 que cresceram ouvindo a banda. Lovesong foi uma das músicas onde isso começou a ficar evidente, o que se repetiu em Inbetween Days e Just Like Heaven, dois dos maiores sucessos da banda tocados em seqüência e mais tarde emFriday I’m In Love.
A banda, formada atualmente por Robert Smith (voz e guitarra), Simon Gallup (baixo), Jason Cooper (bateria), Roger O’Donnell (teclados) e Reeves Gabrels (guitarra), é de pouca movimentação no palco e quase nenhuma interação verbal com o público. Mas será que toda banda precisa fazer estripulias no palco para se sobressair? Vendo o The Cure, a resposta é “não”. Com o som perfeito, setlist empolgante, iluminação ótima e projeções no telão do fundo do palco (alternando imagens ao vivo da banda com animações, como a da aranha, em Lullaby), além da figura sempre peculiar de Robert Smith, em nenhum momento o show se tornou monótono ou entediante. E era perceptível a alegria da banda em estar ali, como o tecladista Roger O’Donnell sorrindo com satisfação ao olhar para a plateia em Pictures of You, as dancinhas desengonçadas de Robert Smith em Lullaby e Close To Me, onde a plateia gritava em resposta e ele sorria, e a promessa de Smith de voltarem logo ao Brasil.
A pista do Anhembi transformou-se numa verdadeira pista de dança em vários momentos, como em A Forest, Mint Car, Friday I’m In Love (as três em seqüência) e Wrong Number, que foi uma das mais agitadas e com solo de guitarra bastante empolgante. Além disso, a plateia se empenhou também em cantarolar as melodias de músicas como The Walk e Lovecats.
A primeira parte do show teve 27 músicas e foi encerrada com End, também do álbum Wish. Após um intervalo de apenas 5 minutos, a banda retorna para mais 3 músicas: The Kiss, If Only Tonight We Could Sleep e Fight, sendo este primeiro bis a única alteração em relação ao show do Rio de Janeiro, realizado dois dias antes.
Mais um rápido intervalo e a banda volta para o segundo bis, que sozinho já seria um grande show: contemplando mais 10 músicas, ao mesmo tempo em que emocionaram a plateia com a execução de The Caterpillar, uma das mais aguardadas, levaram todos ao delírio com Boys Don’t Cry, tocada com um andamento mais lento, porém não a deixando menos especial e fazendo com que todos agitassem e cantassem muito na pista. O show foi encerrado com cerca de 03h15min de apresentação, sendo as duas últimas músicas 10:15 Saturday Night e a agitadíssima Killing an Arab, ambas do final dos anos 70, início da carreira do The Cure, para fechar com grandiosidade e agradando até mesmo aqueles que não conheciam tais canções.
Setlist do show de São Paulo:
Open
High
The End Of The World
Lovesong
Push
Inbetween Days
Just Like Heaven
From The Edge Of The Deep Green Sea
Pictures Of You
Lullaby
Fascination Street
Sleep When I”m Dead
Play For Today
A Forest
Bananafishbones
Shake Dog Shake
Charlotte Sometimes
The Walk
Mint Car
Friday I”m In Love
Doing The Unstuck
Trust
Want
The Hungry Ghost
Wrong Number
One Hundred Years
End
The Kiss
If Only Tonight We Could Sleep
Fight
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