Arctic Monkeys apresenta som pesado e impecável no Rio de Janeiro

Por: Danielle Barbosa

Foto: Felipe Panfili/AgNews – Midiorama
Foto: Felipe Panfili/AgNews – Midiorama

Sete anos após a última passagem pelo Rio de Janeiro, os britânicos do Arctic Monkeys voltaram a pisar em solo carioca no último sábado (15). Dessa vez, para uma apresentação solo e em uma casa lotada de fãs apaixonados e ansiosos pelo reencontro com a banda.

A banda, formada atualmente por Alex Turner (guitarra e vocal), Jamie Cook (guitarra), Nick O’Malley (baixo) e Matt Helders (bateria e backing vocals), havia vindo ao país anteriormente para dois festivais: o TIM Festival em 2007 e o Lollapalooza em 2012, ambos em momentos distintos da carreira dos meninos.

Em 2007, com apenas 21 anos de idade, Alex era adepto de uma franja que cobria boa parte de seu rosto e ainda mais introspectivo no palco. Já em 2013, a maturidade que a banda adquiriu após alguns anos de experiência durante as turnês ficou evidente em uma apresentação confiante e domínio de palco e público. Ainda assim, pouca interação e foco no som e vocais marcantes.

Agora, já em 2014, o Arctic Monkeys atinge um terceiro degrau da carreira, se reinventa e vivencia um novo auge: o lançamento do quinto álbum de estúdio, o AM, com hits que atingiram o topo das paradas e renderam elogios da crítica e do público. Nada melhor que o Rio de Janeiro para fechar com chave de ouro uma turnê que foi um “boom” de sucesso e teve shows esgotados ao redor do mundo, certo?!

A HSBC Arena, casa de shows situada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi o palco escolhido pelos músicos para o fim da turnê homônima ao álbum. Foram dois anos de estrada e um saldo expressivo de países visitados. No Rio, a setlist contemplou um pouquinho de toda essa trajetória de tantos anos dos rapazes.

Era quase meia-noite quando os primeiros acordes de “Do I Wanna Know” ecoaram na arena, levando a multidão que lotava o local a um êxtase: gritos histéricos e todos de pé cantando a música fielmente do início ao fim. Uma energia de arrepiar para um início de show! A noite prometia…

Com uma rápida saudação à plateia, o grupo emendou com os singles “Snap Out of It”e“Arabella”, também do AM. Ao introduzir “Arabella”, Alex disse que a canção era sobre uma menina chamada Arabella. Na verdade, a música faz referência à Arielle Vanderberg, ex-namorada de Alex Turner, vocalista da banda. Foi, sem dúvidas, a ccanção mais performática da noite: Alex chegou a deitar no chão do palco para cantar alguns versos da canção. Para delírio dos fãs, é claro!

“Brianstorm”, “Don”t Sit Down ”Cause I”ve Moved Your Chair”, “Dancing Shoes”, “Teddy Picker” e “Crying Lightning” vieram numa sequência ininterrupta: um espaço para os fãs mais ‘old school’ curtirem sons dos outros quatro álbuns dos Monkeys. Estes fãs, por sua vez, cantavam e dançavam como se a apresentação fosse durar o resto da noite. Uma overdose de sorrisos espalhados por todo o ambiente!

Foto: Felipe Panfili/AgNews – Midiorama
Foto: Felipe Panfili/AgNews – Midiorama

O show seguiu com “Library Pictures”, do álbum “Suck It and See”, quarto disco do Arctic Monkeys. Logo após seu lançamento, o álbum teve uma má repercussão na América por ter – supostamente – uma ‘conotação sexual’, como alguns definiam. Na Grã-Bretanha, entretanto, foi disco de platina. Apesar das controvérsias geradas e que fazem parte da indústria fonográfica, o álbum foi um sucesso e as polêmicas, de certa forma, acabaram por evidenciar a qualidade musical das faixas – o que só foi reafirmado dois anos depois, com o AM, que alcançou a sexta posição na parada musical norte-americana.

“I Bet You Look Good On the Dance Floor” e “Fluorescent Adolescent” foram responsáveis por pôr fogo na apresentação e transformar a plateia de jovens em reais adolescentes fluorescentes. Os fãs mais antigos tiveram um “momento nostalgia” e puderam relembrar os primeiros anos da banda, os primeiros sucessos que levaram a pegada indie alternativa da banda a um estouro mundial. Hoje, de indie a banda tem só as tendências sonoras. Musicalmente falando, o AM é definitivamente um álbum que atingiu a diversos tipos de audiência e tornou a banda mais popular entre os que curtem o estilo.

Já em “505” e “No 1 Party Anthem”, muitos não contiveram a emoção e foram às lágrimas. As canções, acompanhadas a plenos pulmões e luzes dos celulares que iluminaram todo o recinto fizeram a atmosfera ser especial até mesmo para os calados artistas. Alex, que até então apenas havia trocado alguns “Obrigados” com a plateia, pareceu impressionado. “Vocês estão tão lindos! Me faz querer ter uma conta no Instagram”, brincou o músico.

Já no bis, “One For the Road” e “I Wanna Be Yours” embalaram a galera, que não queria que a apresentação chegasse ao fim. Mas não tinha mais espaço para muita coisa: um trecho curto e acústico de “Mardy Bum” foi ensaiado por Alex, após pedidos de um grupo de fãs. A canção é uma das mais reconhecidas e famosas do álbum “Whatever People Say I Am, That”s What I”m Not” (2006).

Em seu último contato com o público carioca, o cantor provocou e perguntou se os fãs pertenciam a ele, e logo emendou os riffs inconfundíveis de “R U Mine”, que teve seu refrão estendido por três vezes. A banda se despediu com um tímido aceno e, se palavras faltaram para Alex durante o espetáculo, para os fãs a noite foi de muitos sentimentos que nem essas palavras poderiam descrever. Só o gostinho de “quero mais” e melancolia da despedida pairou no ar.

Observações e destaques:

* A única diferença da listagem de músicas do Rio comparada ao show de São Paulo foi a aparição de “Fireside” no repertório. Em São Paulo, a banda optou por “My Propeller”.

* Alex Turner é, inegavelmente, o grande foco de todas as atenções. O rapaz de 28 anos, dono de um timbre marcante e um topete à la Elvis, vai direto ao ponto e conduz a plateia no ritmo que se propõe. As dancinhas e coreografias desajeitadas no palco fazem parte das armas de Turner para seduzir e atrair a atenção do público. Com sucesso. O cantor também abusa das mexidas no cabelo e nem o calor do Rio de Janeiro foi capaz de desmanchar o penteado e estilo do músico.

*É importante destacar, no entanto, que o baixista Nick e o baterista Matt são peças fundamentais para dar o tom e marcar os compassos dos sons do Arctic Monkeys.

* Comparar a vibe e a performance em palco do vocalista da banda britânica com o líder do The Hives seria como comparar água e vinho. Alex Turner, frontman do Arctic Monkeys, foi sucinto e econômico com as palavras. O músico preferiu apostar em uma sequência de músicas arrasadoras, deixando de lado as firulas ou pausas para bate-papo com os fãs. Poderia parecer antipatia, ar blasé ou falta de interesse. Diferente dos suecos, o grupo de Sheffield nunca foi de falar muito no palco e os fãs de longa data, já sabendo disso, não esperavam uma apresentação diferente. O grande destaque do show foi o amadurecimento musical no som dos Monkeys: riffs de guitarra na medida, baladas melancólicas nos momentos adequados, uma sonoridade pesada, harmonia entre os integrantes e qualidade instrumental e técnica bem superior se comparada ao início da carreira. Afinal de contas, o que é mais importante em um show de rock?

* Para uns, a falta de interação foi um ponto negativo. Sob uma outra ótica, a apresentação mais objetiva e sem interrupções ampliou a quantidade de músicas na setlist: foram 21 em pouco mais de 1h30. Além disso, 10 das 12 músicas que compõem o novo álbum da banda foram apresentadas no show do Rio. Isso seria realmente impossível em uma apresentação mais interativa.

* O Arctic Monkeys se consolida como uma das bandas mais bem sucedidas dessa geração mais contemporânea do rock com uma pegada indie. Shows lotados, públicos histéricos, e o simples fato de lotar uma casa poucos dias após uma apresentação marcante de Paul McCartney demonstram o destaque no cenário musical que os tímidos (nem tanto mais) ingleses conquistam a cada dia.

Setlist:
1. Do I Wanna Know?
2. Snap Out of It
3. Arabella
4. Brianstorm
5. Don”t Sit Down ”Cause I”ve Moved Your Chair
6. Dancing Shoes
7. Teddy Picker
8. Crying Lightning
9. Knee Socks
10. Fireside
11. Library Pictures
12. I Bet You Look Good on the Dancefloor
13. All My Own Stunts
14. No. 1 Party Anthem
15. Why”d You Only Call Me When You”re High?
16. Fluorescent Adolescent
17. 505
Bis:
18. One for the Road
19. I Wanna Be Yours
20. Mardy Bum (acústico)
21. R U Mine?

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*